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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Canção de Outubro

Trecho do poema inédito “Canção de Outubro”, de Maria Julieta Drummond de Andrade - a única filha de Carlos Drummond de Andrade, que morava em Buenos Aires com o marido argentino (1955). Ausência que o pai/poeta jamais conseguiu assimilar. Tanto que, doze dias após a morte de Julieta (1987), motivada por um câncer ósseo, Drummond falecia, em 17 de agosto, aos 84 anos, por insuficiência respiratória provocada por infarto. Ele parara de tomar os remédios para o coração, pois ”não tinha mais motivos para continuar a viver”.


CANÇÃO DE OUTUBBRO
As imagens são incontroláveis
vejo-me no Parque Municipal
menina antiga
e tu, a meu lado,
com um pacote de chocolate
o pano preto do fotógrafo
fixando o instante da glória
afinal, não fui ao jardim
casa de suplício
e tu, de chapéu preto, terno preto
gravata preta
(...) tu me dás a mão
caminhamos juntos
pela avenida
eram bons aqueles tempos
(ou aflitos?)
a infância é um mistério
mesmo a teu lado
contas tudo e reduzes a nenhum
os dois mil quilômetros
que não nos separam
nunca estivemos separados
mesmo quando o entendimento
era imperfeito
sempre estás ao meu lado
ontem amanhã hoje sobretudo
dia de festa em que reúno
para oferecer-te
essas palavras de outubro